Eu te amo


-Eu te amo.

A frase saiu sem passar pelo cerebro, diretamente do peito para a voz. Tao intenso que ele se surpreendeu. O amor possui esse tipo de verdade que ultrapassa o cerebro.

De seus olhos jorrava energia que chegava aos olhos dela e retornava mais intensa. As cabecas estavam perto uma da outra, encostadas na madeira. A posicao, tao estranha. O amor, tao certo.

Os dois viram a igreja cheia e decidiram entrar, chamados pela musica.

-Vou rezar, preciso agradecer por ter encontrado voce.
Ele se ajoelhou e foi seguido por ela.

Ao acabar a reza colocou a cabeca de lado, encostando no suporte de madeira onde estavam os cotovelos. Ela, que terminou a reza depois, fez o mesmo.

Ficaram ali, com as cabecas na madeira, de joelhos, olhando um para o outro, embalados pela musica sacra, centimetros distantes.

Ele teve vontade de beija-la. Ela entendeu. Sua mao tocou a cintura dela onde descobriu um pedacinho de pele, nu, exposto pela posicao. Uma reacao quimica de prazer invadiu seu corpo e a boca encheu d'agua.

O beijo foi intenso, quase sem movimento. Ela, devagar, bebeu tudo que havia em sua boca.

As pessoas em volta levantaram. Sentaram. Tornaram a levantar. Eles ali, olho dentro do olho.

-Foi o momento mais romantico da minha vida. Tres anos depois ela confessou.

Ele nao sabia o que responder. Nunca tinha analisado a frase desse ponto de vista e ficou calado.

-Naquele momento, eu sabia que voce era o amor da minha vida.

Nada saia da boca dele mas a tristeza era de ambos.

Olhou o relogio na parede, havia perdido nocao do tempo durante a discussao? 2 horas ? 4 ? O amor quando acaba deixa o tempo vazio.

Existiu na relacao um momento, meses atras, que seu coracao perdeu o comando. Nao entendendo bem o porque, delegou o relacionamento para o cerebro. No comeco, o cerebro manteve a chama acesa, buscando forca na memoria, na historia e na razao. Mas o tempo trouxe incertezas. As incertezas viraram vazio.

Bateu a porta e saiu sem chorar. Por experiencia sabia que os proximos anos seriam dificies tendo que se adaptar novamente a vida sem ela.

A estoria se repetia: o fim de um de amor lhe traria duas fases distintas: A primeira onde arranjava namoradas que nao duravam muito tempo.
O coracao, bloqueado.

Passava um tempo assim ate' que vinha a segunda fase marcarda por um periodo sozinho que inevitavelmente culminava em um novo amor.

A vida e seus ciclos, pensou. Uma luz acendeu no lobulo frontal. Descobria uma verdade pessoal que usaria para sempre pois a dificuldade em entender os ciclos residia no fato de que os ciclos levam tempo. Parecia obvio mas nao era.

Talvez um dia serei capaz de descobri-los ou monitora-los desde a primeira vez, pensou, agora que o primeiro passo havia sido dado: Sabia que os ciclos existiam e eram dificies de detectar.

5 comentários:

Anônimo disse...

que coisa linda!
xoranolitroz ;)

Anônimo disse...

É o cálice sagrado e a hóstia consagrada. Coisas dos deuses: o amor e suas vertentes. Conta a história.... eu, nada sei.

b.ponto disse...

a historia da minha vida.
e.

Anônimo disse...

Ricardo,te achei parecido comigo (nasci antes),me achei parecida com vc(me projetei?),gostei também do que achei que era só seu e tive vontade de entrar numa igreja para agradecer ter lido seu conto.

Anônimo disse...

Fico de boca aberta te lendo e ouço também. Vc escreve e viaja por dentro tocando também.