Na adolescencia aprendeu a se afastar do espelho. No maximo uma olhada no cabelo, de esguio. Jamais olho no olho.
Sua fraca auto-estima rompia-lhe os vasos quando exposta.
Se por um instante contemplasse a verdade que o olho no olho transgride, uma armadura se formava, franzindo vincos, enrugando a fronte.
Mas agora nao havia jeito. O elevador tinha espelhos pelos quatro cantos. Ficou imovel, sozinho, exposto ao nu da face.
Ao primeiro sinal de desconforto, reagiu:
-Ainda sou bonito, pensou franzindo a testa.
Sua frase escondia um temor que provocou, vinda das profundezas do utero cerebral, uma pergunta inesperada:
-Seria a preocupacao com a beleza um problema?
O golpe ficaria mais forte, como se o cerebro, cansado por anos, revoltasse buscando o consciente.
-Porque reparo minha beleza em primeiro lugar?
Uma emocao invadiu os olhos, antecipando a derradeira pergunta:
-Sou tao preocupado assim com as aparencias ?
O inimigo cravava a espada em seu peito chegando ao ponto doloroso.
Se nao reagisse, morreria ali, sangrando. Seria hora de chorar pedindo perdao a si mesmo? A ideia de uma vida de aparencias era inaceitavel, mediocre, insuportavel. Logo ele, nao poderia ser.
-Mas beleza pode ser um sinal de saude.
A frase cuspida sinapse abaixo mostrava uma saida. A face reagiu com um leve sorriso de lado, pressentindo uma retirada triunfal.
-Claro, nao sao as aparencias que me afligem e sim uma preocupacao com a saude, e isso explica minha preocupacao com a beleza!
Sua habilidade em construir tiradas de efeito era inabalavel e com esse ultimo pensamento finalizou a desculpa salvadora.
Pelos quatro cantos, apesar da aparente derrota, o espelho sorria.
Sua sabedoria milenar indicava que havia ganho outra vez.
A raiz do medo mantinha-se insconsciente.
Dessa vez, por pouco.
Reflexo
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2 comentários:
achei esse fascinante...
Também achei este fascinante. É fascinante observar a máscara.
Meu "bookmark" também te merece.
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